quinta-feira, 15 de setembro de 2011
Mythos X Logos
"Logos, originalmente, significa "dizer", "contar" (em seu duplo sentido de narrar e de calcular), "explicar", "argumentar". A diferença - e os filósofos contibuiram muito para que essa diferença se fixasse - entre logos e mythos é que está última palavra nomeava uma narrativa que solicitava do ouvinte uma fé no narrador, enquanto que a explicação racional (a filosofia), como se sabe, quer se mostrar verdadeira por si mesma, pela sua coesão interna, pela força do logos. Assim, o elemento que a filosofia colocou contra o mito foi o "direito à autonomia" do ouvinte. Ao som do logos, o ouvinte estaria caminhando pelo seu próprio intelecto, permitindo-se a abandonar o testemunho e, principalmente, a autoridade do rapsodo." (GHIRALDELLI, Paulo Jr. História Essencial da Filosofia. São Paulo: Universo dos Livros, 2009. Vol.I)
O nascimento da filosofia
A filosofia é a arte que busca incessantemente explicações para que a realidade seja compreendida de forma que tais explicações sejam racionais. Tal arte nasceu a partir do descontentamento de algumas pessoas em relação às explicações dadas através de mitos que relacionavam todas as coisas à reação de deuses.
No período mitológico, as alterações que ocorriam na natureza eram explicadas como atitudes tomadas pelos deuses, mas as pessoas que percebiam tal modificação passaram a questionar o que provocava tais alterações. A partir dos questionamentos, a filosofia surgiu embasada na cosmologia que explica de forma racional a origem e transformação da natureza, afirmando que o mundo não foi criado e sim que é eterno e passa por transformações, de forma que não há a possibilidade de ter fim.
As descobertas durante as viagens marítimas que faziam permitiam que os gregos descobrissem que o mito sobre a influência dos deuses na natureza nada mais era do que histórias sem comprovação e que a natureza passava por constantes mudanças que ocorriam sempre nos mesmos períodos.
Apesar de Sócrates ser um grande e destacado estudioso da filosofia, Tales de Mileto é o filósofo que originou tal arte. Assim é considerado, já que iniciou a filosofia ocidental, fundou a Escola Jônica e ainda formou discípulos como Anaxímenes e Anaximandro, esses acreditavam que havia apenas uma substância primordial que originava todas as outras coisas.
Por Gabriela Cabral
Mitologia como tentativa de explicar o mundo
Uma das formas que o homem encontrou para explicar o mundo
Antonio Carlos Olivieri*
Da Página 3 Pedagogia & Comunicação
Reprodução
Zeus, o soberano dos deuses da mitologia grega
Por considerar a raça humana irremediavelmente perdida e cheia de defeitos, Zeus, o soberano dos deuses, resolveu acabar com ela. Para isso, provocou um dilúvio no mundo para afogar a humanidade. Apenas o casal formado por Deucalião e Pirra seria poupado, em virtude de sua bondade. Zeus os aconselhou a construírem uma arca e se abrigarem nela. Depois de flutuar nove dias e nove noites, sobre as águas da tormenta, a arca parou no topo de uma montanha, onde o casal desembarcou.
Quando as águas baixaram, apareceu Hermes, o mensageiro de Zeus, e lhes disse que o soberano satisfaria qualquer desejo dos dois. Deucalião lhe disse que queriam ter amigos. Hermes determinou que ambos jogassem por cima dos ombros pedras recolhidas do chão. As pedras jogadas por Deucalião se transformaram em homens ao atingir o solo. As pedras de Pirra tornaram-se mulheres e, assim, o mundo foi repovoado.
Muito semelhante ao episódio do dilúvio bíblico, esse mito grego narra a destruição e o ressurgimento da humanidade na Terra. De fato, a mitologia, entre os povos antigos ou primitivos, era uma forma de se situar no mundo, isto é, de encontrar o seu lugar entre os demais seres da natureza.
Era também um modo de estabelecer algumas verdades que não só explicassem parte dos fenômenos naturais ou culturais, mas que ainda dessem formas para a ação humana. Não sendo, porém, nem racional nem teórico, o mito não obedece a lógica nem da realidade objetiva, nem da verdade científica. Trata-se de uma verdade intuída, que dispensa provas para ser aceita.
À mercê de forças naturais
O mito pode ter nascido do desejo e da necessidade de dominar o mundo, para fugir ao medo e à insegurança. À mercê das forças naturais, que são assustadoras, o homem passou a lhes atribuir qualidades emocionais. As coisas não eram consideradas como matéria morta, nem como independentes do sujeito que as percebe: o próprio ser humano.
As coisas, ao contrário, eram vistas como plenas de qualidades, podendo tornar-se boas ou más, amigas ou inimigas, familiares ou sobrenaturais, fascinantes e atraentes ou ameaçadoras e repelentes. Assim, o homem se movia num mundo animado por forças que ele precisava agradar para haver caça abundante, para fertilizar a terra, para que a tribo ou grupo fosse protegido, para que as crianças nascessem e os mortos pudessem ir em paz para o além.
Mito, magia e desejo
O pensamento mítico, portanto, está muito ligado à magia e ao desejo de que as coisas aconteçam de um determinado modo. A partir dele desenvolveram-se os rituais, como técnicas de obter os acontecimentos desejados. O ritual é o mito em ação. Já nas cavernas de Lascaux e Altamira, o homem do Paleolítico (12.000 a 5.000 a.C.) desenhava os animais - com um estilo muito realista, diga-se de passagem - e depois os atacava com flechas, para garantir o êxito da caçada.
O mito tem funções determinadas nas sociedades antigas e primitivas. Inicialmente, ele serve para acomodar e tranqüilizar o homem num mundo perigoso e assustador, dando-lhe segurança. O que acontece no mundo natural passa a depender, através de suas ações mágicas, dos atos humanos. Além disso, o mito também serve para fixar modelos exemplares de todas as atividades humanas.
Atualizando o sagrado
O ritual é a repetição dos atos dos deuses, que foram executados no início dos tempos e que devem ser imitados e repetidos para as forças do bem e do mal se manterem sob controle. Desse modo, o ritual é uma atualização dos acontecimentos sagrados que tiveram lugar no passado mítico.
Assim, o mito é uma primeira narrativa sobre o mundo, uma primeira atribuição de sentido ao mundo, na qual a afetividade e a imaginação exercem grande papel. Sua função principal não é propriamente a de explicar a realidade, mas a de adaptar psicologicamente o homem ao mundo.
O mito primitivo é sempre um mito coletivo. O grupo, cuja sobrevivência precisa ser assegurada, existe antes do indivíduo. É só através do grupo que os sujeitos individuais se reconhecem enquanto tal. O indivíduo só tem consciência, só se conhece como parte do grupo, da tribo. Através da existência e do reconhecimento dos outros, ele se afirma enquanto ser humano.
A prevalência da fé
Outra característica do mito é a de apresentar-se como uma verdade que não precisa ser provada e que não admite contestação. A sua aceitação decorre da fé e da crença. Não é uma aceitação racional, fundamentada em provas e raciocínios.
Sob essa perspectiva coletiva, a transgressão da norma, a não-obediência da regra afeta o transgressor e toda sua família ou comunidade. Desse modo é criado o tabu - a proibição -, cuja desobediência é extremamente grave. Só os ritos de purificação podem restaurar o equilíbrio da comunidade e evitar que o castigo dos deuses recaia sobre todos.
Além da razão
Porém, ao opor a razão ao mito, o positivismo empobrece a realidade humana. O homem moderno, tanto quanto o antigo, não é constituído só de razão, mas também de afetividade e emoção. Se a ciência é importante e necessária à nossa construção de mundo, por outro lado ela não oferece a única interpretação válida do real.
Negar o mito é negar uma das formas fundamentais da existência humana. O mito é a primeira forma de dar significado ao mundo: fundamentada no anseio de segurança, a imaginação cria histórias que nos tranqüilizam, que são exemplares e nos orientam no dia-a-dia.